5 de dez. de 2011

Anormalidade querida


Cansei de coincidências. Quero coisas propositais. Quero alguém dizendo que fez algo exatamente para chamar a minha atenção, ou até mesmo me irritar. Quero ouvir um comentário pensando que foi "sem-querer", mas no final saber que foi querendo. Quero o lápis caindo da mesa só para uma troca de olhares. Uma trombada, um descuido, uma desatenção para uma troca de palavras, mesmo que rápida e quase despercebida.

- Nossa você por aqui! Mas que surpresa agradável. Não sabia que passava aqui...
- É, eu passo. Constantemente, para falar a verdade. Você que eu nunca vi.


Algo um pouco exibido no estilo de “eu já sabia” num tom de calmaria. Algo inusitado, inesperado, impensado. Um pouco de medo e insegurança também são bem-vindos. Algo que seja secreto até para quem fará. Que ninguém saiba até que aconteça. É... Assim... Sem mais nem menos.

- Você lembra aquele dia, amor, que eu passei por você na rua e disse que não sabia que passava por lá? Na verdade, eu sabia. Fui lá só pra te ver. Mesmo que não falasse nada, só te visse. Te ver era meu objetivo. [...]

Pode demorar anos, meses ou dias. Não me importo. Pode ser agora ou daqui a pouco, contanto que seja. Eu sei esperar. Eu posso esperar. Contanto que aconteça. Posso até não perceber. Pode até ser daqueles bem escondidinhos, daqueles que demoram em subir a tona. Pode ter o sentido de acalmar e melhorar ou não ter sentido algum além de vontade.

- Eu sabia que isso aconteceria! Eu sabia e mesmo assim quis me meter nisso! Só brigas, brigas e mais brigas. Não quero mais!
- Querida, se acalme. Eu também sabia. Eu também sabia e mesmo assim quis me meter nisso. E sabe por quê? Porque é bom te ter. Posso querer abusar da sua memória, mas lembra quando te contei que fui te ver na Rua Dois propositalmente? Te contei aquilo porque naquela época já sabia que era com você que eu me casaria, e sabia que brigaríamos. Sabia que poderia ter a oportunidade de te falar que eu ainda sou aquele cara e que [...]

Quero coisas propositais que pareçam inocentes, que pareçam coincidências, que venham com cheiro de casualidade, cheiro de nada além de coisas que poderiam acontecer com qualquer um. Quero poder dizer, com alma e coração, que poderia acontecer com qualquer um, mas aconteceu comigo e que nem eu entendo, compreendo e assimilo muito bem. Mas foi assim... Aconteceu. Quero que aconteçam coisas pré-escritas por escritores amadores que amam o que escrevem e o que querem fazer acontecer. Quero, por mais que venham cheias de loucuras, incertezas e incapacidades. Quero que venham, que cheguem, que se aconcheguem e que fiquem. Fiquem comigo pela simples vontade de ficar em casa, de se sentir em casa.

2 comentários:

Anne Seixas disse...

Cu, amei o texto! Mesmo! Você tem muito talento pra coisa. Beijos, saudades.

Naira Zumpano disse...

Obrigada Cu. Fiquei feliz em saber que gostou. Tô com saudade também...

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